Existo. Ou não

Sou loira dos olhos negros. Inventada. Sou a personagem em mim que esteve atenta o tempo todo, a que guardou, quebrou, misturou e pintou essas histórias. Sem ela, eu simplesmente não aprendo. Não conseguiria. Eu posso ser outras pessoas, uma grande alegria na vida duns, uma grande tristeza na vida doutros, mas, se escrevo, sou Cassandra. Se não sou, digo a ela: Cassandra, que saco! E a gente sai por aí. Discutindo e tomando uns goles. E a gente se mistura. A gente se conforta. Em Uberlândia, minha Macondo, minha London, minha Paris. O Alfredo? É meu incidente, reincidente.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vago plano para não mudar de vida

Sei que não neva em Uberlândia. Mas eu sinto o gelado desses dias. Se me viro praqui ou prali, tanto faz. E de vez em quando eu ando debaixo de chuva mesmo. Tem gente que me vê, para o carro, me segue, grita meu nome, oferece carona. Eu não ouço. Ignoro, sem querer, porque não ouço. Sei depois, porque me contam compreensivos, acostumados com minha loucura. Eu não iria querer carona de qualquer maneira. Continuo sentindo a chuva, o arrepio. É só usar uma bolsa de plástico.

As constantes ofertas de ajuda.São risíveis. Pelo menos para mim. Me salvam da chuva, dos vícios, dessa terrível conduta distraída. Não me beneficio de nada disso. Eu vou perdoando os defeitos dos outros até me dar conta de que posso me retirar do recinto quando bem entender. Saio de fininho e finjo que nunca estive ali. Como se fosse um personagem ausente da minha própria história, esperando que Alfredo volte com a minha com a minha crença em qualquer coisa. Não acredito que vá acontecer. De fato, não tenho notícias.

As pessoas se aproximam de mim para dizer as coisas mais absurdas, que fulano disse isso e aquilo de mim. Guerras inteiras em nome dos egos mais medíocres. Eu não defendo o meu: dou vexames históricos em festas chatíssimas. Faço a minha parte. Não sou menos ridícula do que ninguém, deixo sempre claro. Mas tudo vai ficando inóspito, como se eu fosse a própria aberração.

Aqui, é como se toda a minha tristeza tivesse sido extraída da alegria que eu tinha de me sentar de pernas abertas, não usar sutiã e abraçar meus melhores amigos. Tudo foi chamado de erro: meu sorriso expansivo, meu gosto por danças engraçadinhas, minhas sinceridades súbitas, minhas tempestades de choros intermináveis. Não sinto que possa contestar por agora. Mas eu tenho um plano vago de usar roupas indecentes por mais um tempo ainda. E ver no que dá.

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