Existo. Ou não

Sou loira dos olhos negros. Inventada. Sou a personagem em mim que esteve atenta o tempo todo, a que guardou, quebrou, misturou e pintou essas histórias. Sem ela, eu simplesmente não aprendo. Não conseguiria. Eu posso ser outras pessoas, uma grande alegria na vida duns, uma grande tristeza na vida doutros, mas, se escrevo, sou Cassandra. Se não sou, digo a ela: Cassandra, que saco! E a gente sai por aí. Discutindo e tomando uns goles. E a gente se mistura. A gente se conforta. Em Uberlândia, minha Macondo, minha London, minha Paris. O Alfredo? É meu incidente, reincidente.

sábado, 20 de novembro de 2010

Anos-luz de tempo perdido


Num futuro próximo –  dia 19 de setembro de 2011 – eu finalmente cumpriria minha promessa de só pisar em Paris com um grande amor fotógrafo ao meu lado. Depois de ter diversas vezes passado na porta da França e me recusado a entrar no país alegando fobia a franceses, eu finalmente poderia revelar O Grande Segredo para as lentes de meu amado. No topo da Eiffel eu diria: recusei-me a vir à França antes porque esperava por você, meu grande amor fotógrafo que me acompanharia até aqui.


Tiraríamos a foto, eu sentiria fome, iríamos comer queijo com café e depois nos empolgaríamos com a próxima atração, o museu de Louvre.


Enquanto nos aproximássemos da pirâmide de vidro, estranharíamos que na praça seca que a cerca houvessem sido erguidas gigantescas caixas de som. Coincidentemente, chegaríamos pontuais, bem na hora em que elas seriam ligadas.


A coisa toda teria sido montada por artistas neuróticos em protesto à indústria da fofoca que, segundo eles, era a principal responsável pela morte da criatividade humana. Quando as caixas fossem ligadas, vozes de bilhares de pessoas comentariam, em diferentes línguas, a vida de Angelina Jolie. Falariam sobre um boato lançado pelos próprios artistas neuróticos de que Angelina Jolie seria, na verdade, O Vingador e, Brad Pitt, o Mestre dos Magos.


De repente, o som cessaria e um texto seria projetado pelas próprias paredes do Louvre dizendo que, se todos os comentários feitos especificamente para aquela fofoca pudessem ser escritos e impressos, o tempo gasto por uma pessoa adulta para ler o texto resultante poderia ser medido em anos-luz.


Então religariam o som, e eu ouviria nitidamente minha voz em português dizer: eu sempre achei o Brad parecido com o Mestre dos Magos. Teria dito isso no Barolo Point?


A essa altura eu estaria bem desconfiada de que aquilo tudo não passasse de um sonho.


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