Existo. Ou não

Sou loira dos olhos negros. Inventada. Sou a personagem em mim que esteve atenta o tempo todo, a que guardou, quebrou, misturou e pintou essas histórias. Sem ela, eu simplesmente não aprendo. Não conseguiria. Eu posso ser outras pessoas, uma grande alegria na vida duns, uma grande tristeza na vida doutros, mas, se escrevo, sou Cassandra. Se não sou, digo a ela: Cassandra, que saco! E a gente sai por aí. Discutindo e tomando uns goles. E a gente se mistura. A gente se conforta. Em Uberlândia, minha Macondo, minha London, minha Paris. O Alfredo? É meu incidente, reincidente.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sobre astrologia

Outro dia li um texto de escárnio à astrologia escrito por um capricorniano que achava impossível definir-se pela data de nascimento. Considerando que não exista destino pré-definido, ainda sim se contam histórias dos destinos vividos e, para isso, costuma-se começar pela data de nascimento do sujeito. A esse dado primário deve-se somar o local onde o sujeito nasceu porque então será possível delinear o cenário político e econômico que dará ao sujeito esta ou aquela vida, língua, religião, costumes. Não há mistério nisso ou na astrologia, o destino é uma realidade e o destino da morte é tanto pré-definido quanto inevitável, além dessas sentenças, pouco ou nada se sabe embora especulações sejam defendidas apaixonadamente.

As conversas astrológicas têm tons de parábolas porque são desenvolvidas na linguagem dos signos, símbolos, assim como toda linguagem, ainda que não se perceba a própria língua recheada de belas parábolas. Gaba-se por aí da presença da palavra saudade no léxico português por exemplo, por ser uma palavra bonita, por definir o sentimento inominável de dor pela ausência do outro. Sobre o sentimento em si, sabe-se de pouca coisa embora com a palavra saudades seja possível criar inúmeras parábolas que remetam ao mesmo sentimento. Não se convencionou que a palavra saudade estivesse relacionada às reações químicas do organismo humano a dada memória, se assim fosse, a palavra saudade não faria verter lágrimas e sorrisos nos incautos que ouvem “chega de saudade” pela primeira vez.

Para a astrologia, as palavras e seus significados, os signos, os símbolos, servem para contar as histórias dos destinos já vividos, de onde se parte a verificar a existência de padrões a partir dos quais seria possível prever os destinos a se viver. Não é uma questão de se acreditar ou não. Ou se verifica que os padrões existem, ou não se verifica. Só aí se olha para o céu para anotar matematicamente o movimento e a interação entre planetas, e só aí se verifica a existência ou não de padrões relacionados à vida cá na Terra.

Obviamente, os sujeitos que passam muito tempo olhando para o céu, são chamados de lunáticos, palavra que, segundo o dicionário, define algo sujeito à influência de luas. Esse sujeito é oposto aos tipos que são mais influenciados pela Terra, os quais, simbolicamente, ao invés de serem atraídos pelos céus, pela lua, têm os pés bem firmes no chão, como é o caso do signo de Capricórnio, tipicamente avesso ao que não seja prático e sólido.

De maneira que o escárnio à astrologia vindo de um típico capricorniano (nem sempre apenas com o sol ali) coloca um meio sorriso no rosto dos astrólogos: eis um padrão verificado.

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