Existo. Ou não

Sou loira dos olhos negros. Inventada. Sou a personagem em mim que esteve atenta o tempo todo, a que guardou, quebrou, misturou e pintou essas histórias. Sem ela, eu simplesmente não aprendo. Não conseguiria. Eu posso ser outras pessoas, uma grande alegria na vida duns, uma grande tristeza na vida doutros, mas, se escrevo, sou Cassandra. Se não sou, digo a ela: Cassandra, que saco! E a gente sai por aí. Discutindo e tomando uns goles. E a gente se mistura. A gente se conforta. Em Uberlândia, minha Macondo, minha London, minha Paris. O Alfredo? É meu incidente, reincidente.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Meu clipe para Bjork (leia antes e depois leia em voz alta junto com o play ou em voz alta por dentro)...... :)




Acho que toda vez que ouço essa música, neva no meu quarto, na minha cidade. Assim as palavras se colorem e se escrevem nas paredes. Quase como uma maldição boa, muito quente por dentro, como se os flocos de neve mais queimassem que congelassem qualquer coisa. Eu imagino que as coisas não sejam assim para todas as pessoas e por isso elas se pareçam sempre mais felizes do que eu, ou tristes em outro sentido, no meu sentido, quero dizer. Eu dizia que, de fato, entendo que tudo esteja cheio de amor. De fato, a primeira vez que vi na televisão uma guerra tive que perguntar para o meu pai o porquê daquilo. A guerra do Iraque. Ele pediu que eu imaginasse uma família que, de repente, invadisse nossa casa e quisesse nos tomá-la. Ainda não entendia. Por que uma família, de repente, invadiria nossa casa para nos tomá-la? As guerras, as minhas próprias discussões acaloradas internas, Marte. Eu não entendia. Mas quando neva, não cabe mais, eu fico muito doce, também me derreto, me alimento do que gosto, das doces frutas que a neve produz. Eu gostaria de colocar aqui os que amo e seus sorrisos, se me permitirem. Deixo fazer parte do meu quarto todas as minhas melhores lembranças. Eu nem sempre fui estúpida, mas quando fui, quebrei muitas vidraças. A força de Marte. Não sei se é tão difícil assim suportar minha indiferença, ela chega para guardar minhas fortalezas, mas não se aproxima tanto assim de mim. Aqui dentro estão todos vocês e cada delicioso momento. Eu nem sempre fui estúpida, fui doce muitas vezes. Vi cada cor em seus cabelos, que vocês nunca imaginariam! Senti perfumes, tracei personalidades, cuidadosamente, em tricôs ora bem humorados, ora tão, tão, tão tristes! Aí ia escrever poema, derramar rios de lágrimas. E a minha indiferença chegava em mares de solidão. Estava, mas não estava ali. As pessoas se assustavam. Custam entender que eu estava sendo tão doce, fazendo poemas. Tem que haver uma música para me incomodar. Essa da Bjork não me incomoda não. Muito pelo contrário. Faz nevar no meu quarto. Me deixa encher meu quarto de palavras, suas paredes, minhas velhas alegrias. Enquanto as crianças brincam no parque e eu mesma viro criança para escrever uma pequena história sobre isso. Eu teço planetas muito distantes de Marte, muito particulares, de fato. Queria que fossem universais, mas não são, de fato, não são. Eu preciso ser seletiva ao convidar minhas memórias. Só as melhores lembranças: quando a luz do sol fazia espetáculos gloriosos em meus cenários. Só de pensar no outono, já me enterneço do frio. E estar distante das bolas de fogo, das violências gratuitas, porque neva e é preciso tomar um leite quente. Lá fora os flocos mais queimariam que congelariam, todo mundo sabe disso. Não se atreveriam a me ver explodir. Antes meu carinho distante, minhas dúzias fartas de sorrisos. Há qualquer eletricidade maior no ar, por isso minhas lágrimas, duram anos, e todo mundo sabe disso, dos meus dramas, da eletricidade, das lágrimas, do choque. As explosões das águas são sempre mais pesadas. Não se atreveriam a invadir meu quarto no inverno. Por que fariam isso?  Cada floco de neve, cada palavra colorida, o silêncio invadido pela música da Bjork. Unravel. Homogenic.

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