Existo. Ou não

Sou loira dos olhos negros. Inventada. Sou a personagem em mim que esteve atenta o tempo todo, a que guardou, quebrou, misturou e pintou essas histórias. Sem ela, eu simplesmente não aprendo. Não conseguiria. Eu posso ser outras pessoas, uma grande alegria na vida duns, uma grande tristeza na vida doutros, mas, se escrevo, sou Cassandra. Se não sou, digo a ela: Cassandra, que saco! E a gente sai por aí. Discutindo e tomando uns goles. E a gente se mistura. A gente se conforta. Em Uberlândia, minha Macondo, minha London, minha Paris. O Alfredo? É meu incidente, reincidente.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Homem


De repente olhei para aquilo tudo e achei que fosse pouco, muito pouco mesmo, um punhadinho de pó de café que não desse nem para uma xícara. Na outra extremidade da sala, o chapéu sobre o cabideiro lembrava a figura de um homem, não qualquer homem, mas o homem que aparecia sempre em meus sonhos, e, quando criança eu o tomava umas vezes como anjo, outras como demônio. É que aquele homem tinha jeito de linguagem cifrada, saía de trás duma árvore, cortava meu caminho, sempre com seu chapéu distinto e um terno sem razão de ser. Raramente dizia alguma coisa, surgia como se tivesse a agradável obrigação de velar meus sonhos, porque tinha a cara ‘mais boa’ do mundo, um sorriso escondido na feição que pouco se movia. Mas não, era só o cabideiro e era muito pouco, por isso o transformei em homem e, então, era tão, tão.  

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