Eu? Nem isso. Desconfio da minha própria descrença porque, às vezes, eu acredito.
Às vezes eu acredito em astrologia, às vezes num amor, às vezes, acredito no futuro. Descrença integral seria não crer nem mesmo nela.
Se isso fosse um filme e eu estivesse me aproximando da muvuca de um daqueles domingos da Sérgio Pacheco, e, em câmera lenta, meus conhecidos se aproximassem para escrever de batom, em minha pele, os adjetivos que acreditassem caber em mim, eu diria que eu mesma poderia escrever em minha coxa: apática.
Não pense que tanta apatia só poderia ser resultado ou causa de uma grandessíssima depressão, da tal náusea. Ledo engano. Tanta apatia enche o peito de vazio imenso e pode ser que isso descambe para uma leveza de milionário.
As coisas ficam leves quando consigo definir tudo com um aforismo barato: o que não tem remédio, remediado está. Vou cuidar de tomar um sorvete, uma cerveja, fumar um cigarro, contar uma piada, ficar de boa, especialmente nas entressafras de amores, aquela época em que começo desfilando por aí uma asa quebrada e termino alçando vôos que pensava impossíveis antes, quando o amor me prendia ao chão.
Nas memórias, são minhas épocas favoritas. Exerço minha descrença com mais liberdade quando vou bem sozinha. Com os outros não dá para dividir uma coisa dessas, aprendi.Virou crença: dividir descrença com os outros, não dá.
Mas também crença cai, tem hora, de supetão. E foi em uma dessas minhas entressafras de amor que passei a dividir descrenças com Alfredo. Ele, a dividir as suas comigo. Parecia impossível, exatamente como o resto das coisas que parecem impossíveis às vezes. Às vezes, eu acredito nessa política de ver para crer. Vejo e creio.
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